segunda-feira, 28 de maio de 2018

Temporada 2018


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (28/5/2018)

Crítica/ “Os guardas do Taj” 
Guardiões de uma cena sem meta
O texto do americano de ascendência indiana Rajiv Joseph atira em várias direções sem atingir quaisquer das muitas metas que pretende alcançar. Inicialmente, pode-se imaginar que seja sobre a disciplina, já que os dois guardas reais, postados nos muros que contornam a construção do Taj Mahal, devem obedecer a regra de não olhar para a obra antes de concluída. Logo depois, percebe-se que duas personalidades antagônicas falam de hierarquias e temperamentos sob a espada da punição. Em seguida, a grandiosidade do palácio de Agra é pretexto para encaminhar, e logo abandonar, discussão em torno do belo. Entre tantos impulsos, surge o massacre, executado pela dupla que decepa as mãos de milhares de trabalhadores da construção. Ainda resta as consequências do ato bárbaro, que desanda em delírios e culpas trocadas pela dupla. Pelos diversos estágios por onde se desenvolve essa trama de desvios e rumo hesitante, as cenas são atropeladas pela fixidez de cada uma delas. Descontínuas, quando escritas como sequenciais, buscam na ação o motor para os diálogos, que oscilam do trivial da amizade a mística dos devaneios. A direção duplicada de Rafael Primot e João Fonseca não provoca o par de atores a temperar a insossa preleção, ressaltando os desníveis do texto com interpretações que se mostram deslocadas. Há cuidado de produção na música original de Marcelo Pellegrini, extensivo ao figurino de Fábio Namatame. A cenografia de Marco Lima e a iluminação de Daniela Sanchez, com sutilezas de movimento no muro  e de tonalidades na luz, criam atmosfera indiana de eficiente e filigranado efeito visual. Reinaldo Gianecchini  se faz rígido e tenso nas primeiras cenas, com alguma exposição mecânica do personagem. No massacre, sua atuação não supera a impressão de gestos ensaiados. Ricardo Tozzi aproveita o comportamento mais distendido do guarda Babur para projetá-lo, sem traves, para a plateia. Mas quando o personagem entre em crise de consciência, o ator se intimida.