Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (21/5/2018)
Crítica/“Catarse
“Catarse”, intitulada pelo trio de autores –
Clarice Zarvos, Felipe Vidal e Leonardo Corajo – como “uma paraópera, não dá
muitas indicações em que estilo se realiza cenicamente. Até poderia se
aproximar da ópera se não tentasse dissimular em diálogos realistas a inclinação
para o musical dançado. A acomodação desses indícios, mesmo acanhados nas suas
expressões, é mais simples do que
coordenar os planos narrativos da dramaturgia. Fato ocorrido na cidade de
Estrasburgo, na França, em 1518, é utilizado como referência,
simbólica-metafórica, para “uma
insatisfação represada” da vida atual. Um mulher que dançava, sozinha e sem
música, pelas ruas da cidade, depois de uma semana contamina três dezenas de
bailarinos, que em um mês já são 400. Esse contexto deflagrador, permeia cenas
do discurso corrente na agenda político-social da vez. Questões de gênero,
intolerância, injustiça, ecologia, violência são transpostos como atos provocadores
para uma epidemia de dança à procura do mesmo efeito reagente. Ou alienante,
dependendo da perspectiva do observador. São quadros desiguais em efeito e
alcance, retratos fotográficos da desigualdade social, embutidos,
artificialmente, na citação histórica. O elo entre os tempos é melhor
determinado pela dança do que pela ação. Felipe Vidal, diretor, autor da trilha
original e diretor musical, ao lado de Luciano Moreira, sustenta a montagem com
roteiro sonoro e de movimentos mais coeso e convincente do que as superstições da
narrativa. A diversidade de ritmos, que conduz as composições por sonoridades
bem ajustadas às letras, simples, diretas e claras nas suas pretensões de
explicitar o metafórico. A qualidade musical sobressai na montagem em que o
elenco – Clarice Zarvos, Francisco Thiago Cavalcanti, Jefferson Almeida,
Maurício Lima, Rômulo Galvão, Leonardo Corajo, Sérgio Medeiros, Noêmia
Oliveira, Tainah Longras e Tainá Nogueira – participa como atores-bailarinos de
uma invocação do passado para movimentar o presente.