quarta-feira, 18 de abril de 2018

Temporada 2018


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (18/4/ 2018)

Crítica/ “Yank – O musical”
Soldados no front da guerra do preconceito

O título completo desse musical de 2005, escrito pelos irmãos americanos Davis e Joseph Zellnik, “Yank – Uma história de amor da Segunda Guerra Mundial”, sintetiza quase completamente a trama. A história que menciona é a de dois soldados que vivem relacionamento no front, interposto por preconceito, código militar, homofobia e as próprias contradições dos amantes. A descoberta do diário de um deles, rasgado e com páginas soltas, descreve  sentimentos e oposições como ponto de partida para entrecho ambientado em situação histórica que informa sobre a sociedade do período. Os autores têm a preocupação em caracterizar os personagens como satélites do par central, representando as diversas formas de rejeição e de comportamento. São categorias de discriminação e tipologias de sexualidade que os autores exploram com vestes de musical e desnudamento do dramático. As convenções de cada um dos gêneros são respeitadas, apostando no tratamento trivial das situações e da trilha musical. A trama se desenvolve com coerência realista e música e letra compõem, com comentário previsível, o artesanato rotineiro do original. A direção de Menelick de Carvalho segue, com as limitações de produção e desequilíbrio do elenco, a trajetória corriqueira do texto. Como se trata de musical, é bom lembrar, as inserções vocais e coreográficas acentuam a fragilidade de meios, e a inconstância de tonalidades. A tipificação dos personagens  se evidencia pela sequência em quadros com que o diretor sublinha o já demonstrado. A cenografia, bastante econômica, distribui pela cena os poucos elementos (cama-beliche, estrado central, mesa e cadeiras) sem desenho de melhor ocupação. A iluminação de Daniela Sanchez investe em estabelecer climas, com resultado parcial. O figurino acerta no comportado uniforme caqui dos soldados, mas se atrapalha nas roupas das personagens femininas. A tradução e versões, de texto e das letras, do diretor e de Victor Louzada, soam com fluência. Hugo Bonemer e Conrado Helt, a dupla protagonista, emprestam sinceridade às suas interpretações. Leandro Terra fica no limite do caricatural. Fernanda Gabriela mostra maior intimidade com o canto. Leonam Moraes, Dennis Pinheiro, Alain Catein, André Viéri, Bruno Gane e Robson Lima estão mais à vontade cantando do que dançando.