quarta-feira, 11 de abril de 2018

Temporada 2018


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (11/4/2018)

Crítica/ “Insetos”
Invertebrados em desequilíbrio com humanos
Fábula dos tempos atuais ou metáfora de perplexidades? “Insetos”, texto de Jô Bilac transfere a esses invertebrados incômodos o papel de agentes dos desequilíbrios que assaltam nossos dias, tornando-os personagens reprodutores da natureza e atitudes dos humanos. Gafanhotos provocam destruição, barrada pela ditadura do louva-a-deus. Baratas enfrentam a morte impulsionadas pelo medo. Abelhas, borboletas, formigas, mariposa e outros bichos voadores ou rastejantes são separados entre os servem e os que serão devorados pela desordem social a que estão submetidos. A desarmonia da natureza leva o êxodo das abelhas ao encontro das disfunções da vida animal em guerras, debacles econômicas, preconceitos, e tantos perrengues que abalam a vida de todos. São 12 quadros que se desenvolvem à procura de estabelecer arquitetura cênica de eixo instável. Ao projetar nos insetos as fraturas da existência dos racionais, procura-se a representação de um mundo em outro, como espelho para foco crítico. A montagem, com direção de Rodrigo Portella e Cesar Augusto, Marcelo Valle, Marcelo Olinto, Susana Ribeiro e Tairone Vale no elenco, reforça a transposição desfocada entre a narrativa e o seu alcance. Os dois planos, desempenho e intenção, se desmentem mutuamente pela figuração pueril que não sustenta a ação, ainda mais fragilizada pela indefinição no humor e na acomodação dos diálogos. A encenação persegue ritmo ágil de texto desalinhavado, não permitindo melhor comunicabilidade para tanta movimentação dispersiva. Os pneus do cenário de Beli Araújo e Cesar Augusto são coadjuvantes na dinâmica da composição visual e os figurinos de Marcelo Olinto, acessórios miméticos ao lado da preparação corporal de Andrea Jabor. A ambientação em sala de exposição do CCBB distancia a plateia da área de representação, ocupada por atores em simulação, por imagens e gesticulação, de insetos, e aprofunda a ausência de balanço de tempo para produzir contrapontos narrativos. A cena é agitada, mas uniforme em seu alvo desconexo e interesse decrescente. A direção reproduz a colagem de cenas do autor, deixando murchar a curiosidade inicial e promissora de adentrar no universo paralelo dos insetos e igualar ao nosso.