sexta-feira, 26 de maio de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (26/5/2017)

Crítica/ “Um amor de vinil”
Dos tempos do long-plays


O musical de bolso de Flavio Marinho está envolvido em nostalgia. O entrecho ingênuo lembra as comédias românticas americanas de décadas passadas. O repertório musical evoca o que era ouvido a partir dos anos 60 em discos de vinil. E a narrativa, com tipos que se identificam ao boulevard francês, procura reencontrar o conceito de divertissement. O referencial nostálgico está na própria estrutura dessa coletânea de canções à serviço do descompromisso de embalar lembranças, reviver épocas e citar produções artísticas. O entrecho bastante simples com diálogos que buscam o humor, é complementado por canções que se encaixam, como comentários ilustrativos, ao convívio do casal protagonista. No enquadramento em pequeno formato, a comédia musical desfila repertório que serve, no ajuste das letras e na liberdade dos ritmos, a convívio sem muitos ruídos. O espírito da montagem pode ser figurado pela cena inicial, em que a atriz entra no palco, manobrando uma bicicleta com cestinha no guidão, cheia de flores. A imagem fixa a leveza com que a montagem, conduzida por André Paes Leme, estabelece o seu espaço expressivo e o alcance de sua inclinação. O diretor se apoia na direção musical de Liliane Secco para tornar a sonoridade, elemento dramaturgicamente mais relevante. O efeito afetivo que as faixas de antigos long-plays provocam na memória de cultores de certos estilos, parece ser o pretendido. Ouvem-se canções com títulos que se avizinham do romantismo suburbano e de emoções derramadas. De “Começar de novo” e “Nuvem de lágrimas”. De “Você pediu e eu já vou daqui” a “Só vou gostar de quem gosta de mim”. O elenco – Françoise Forton e Mauricio Baduh – com vozes modestas, e os músicos – Gustavo Salgado e Marco Gérad – em dueto afinado, dimensionam “Um amor de vinil” em suas intenções e na fidelidade às suas fontes inspiradoras.