domingo, 9 de abril de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (9/4/2017)

Crítica/ “Vamp – O musical”
Terror juvenil de parque de diversões musicado

“Vamp” é a evidência de como novela de mais de cem capítulos, com trama juvenil, se adapta a comédia musical, usando, precariamente, os maneirismos de ambos os gêneros. A trama, que talvez se sustentasse como folhetim de televisão não tem fôlego para ser reproduzida em linguagens tão equidistantes numa mesma escala narrativa. Transferir fiapo de história, com personagens e suspense pueris para ilustrar quadros com dança e música, recheados de dispensáveis ações secundárias, prova que o autor do modelo televisivo acreditou que poderia caber no palco, o que se acomodou na telinha. Antonio Calmon não considerou a dramaturgia própria de cada um dos meios, apenas remanejou vampiros de mordida fraca para voos de humor rasante. Jorge Fernando, diretor da novela e responsável pela concepção e direção geral da versão musicada, preservou as subtramas e o enredo de sustos e suspiros, acrescentando tempo de duração desnecessário ao que resultaria mais comunicativo se condensado ao essencial. O diretor Diego Morais, apoiado na cenografia de grandeza espetacular de José Claudio Ferreira, no figurino farto de Lessa de Lacerda, no visagismo apropriado de Martin Macias, e na iluminação de Maneco Quinderé, cria encenação feérica. As constantes mudanças de cenário e os efeitos que as trocas de roupa pretendem que surpreendam, se completam na coreografia de Alonso Barros, deixando à mostra o tributo dos diretores aos shows. Pelo menos em algumas cenas, as composições visuais ganham impacto, como nas aranhas que se movimentam como figuras alegóricas. Ou nas inventivas motocicletas construídas a partir de patinetes. E no número de “Thriller”, que revê a coreografia do videoclipe de Michael Jackson, evoluindo para passos de samba. Apesar das composições originais de Tauã Delmiro e Tony Luchessi, um tanto rotineiras, o que sobressai são canções populares, como “Noite preta” e “Doce vampiro”. O ensemble de 36 atores-bailarinos-cantores  participa deste show vampiresco de parque de diversões com unidade profissional. Claudia Netto, como vampira-lusa, mantém a segurança na voz e na presença cênica. Evelyn Castro supera a caricata caça-vampiro com qualidade e potência musical. Claudia Ohana se desequilibra na insegurança vocal, e Ney Latorraca retoma a previsibilidade de um tipo.