quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Temporada 2016

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (10/8/2016)

Crítica/ “O musical Mamonas”  
Retrato sem retoques de um show mimético
O musical “Mamonas” se intitula “obra de ficção baseada em fatos reais”, que mostra como Walter Daguerre tratou a curta trajetória do grupo de Guarulhos. A morte em acidente aéreo é abordada logo no início, com o grupo no céu, recebendo a missão do anjo Gabriel de acabar com a caretice que assola o país. Para tanto, o estilo é do musical, em que “se fala um pouco para cantar em seguida”, numa tentativa de exercício de meta-teatro e de reproduzir a brincadeiras de letras de humor adolescente. Mas se esse é o princípio, a sequência é mais restrita no acompanhamento da carreira dos meninos que adoravam rock, tinham uma banda conhecida nas festinhas e no ginásio da cidade com o pretensioso nome de Utopia. A partir de então, o caminho adotado pelo autor fica regulado pela transcrição da carreira, par e passo com o repertório, esquecido da proposta da inversão inicial. Daguerre segue, cronologicamente, os fatos que levaram a banda ao sucesso de vendas e shows, com seus figurinos caricatos, letras de irreverência ingênua e músicas de acordes simples. O texto associado ao repertório, se estende a detalhes que parecem pouco interessantes, como a viagem à Disney, os encontros com produtores e diretores de gravadora, além das origens na cidade da grande São Paulo. O que importa, ao que parece, é apresentar as músicas, todas, associando biografia sonora a imagens miméticas. O diretor geral José Possi Neto, o diretor musical Miguel Briamonte, e a coreógrafa Vanessa Guillen também se concentraram em refazer, como cópia, um retrato sem retoques, em que nada destoa da forma conhecida e da citação referenciada. Imitar levou o figurinista Fábio Namatame a reproduzir roupas quase idênticas às originais. A fidelidade aos desdobramentos de uma carreira, mais do que a interpretação de um sucesso imprevisível, aliás como todos são, deixa o musical longo e dispersivo, que tem no elenco a expressão mais visível das semelhanças. Cada um dos atores se parece com os membros da banda, nas vozes e no físico. Yudi Tamashiro, Adriano Tunes, Elcio Bonazzi, Arthur Ienzura e Ruy Brissac (Dinho, o vocalista) recriam com veracidade o desempenho do quinteto, sustentado por evidentes qualidades interpretativas e técnicas. Os atores emprestam competência e vibração a um musical atrelado ao fotográfico, superando qualquer lembrança de plágio.