domingo, 9 de agosto de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (8/8/2015)

Crítica/ “Vanya e Sonia e Masha e Spike”
Tchecov adaptado ao humor sem freios
Tchecov considerava suas peças como comédias, numa avaliação bem peculiar e carregada de ironia em relação ao seu universo melancólico e às emoções difusas das personagens. Mas comédia mesmo escreveu o americano Cristopher Durang, que transpõe situações e cenas da dramaturgia do autor russo para farsa de invólucro tchecoviano e humor aberto. Na história dos irmãos Vanya, Sonia e Masha, a coincidência de nomes e tramas se refere a citações a “Gaivota”, “Três irmãs” e “Tio Vânia”, além da ambientação lembrar “Jardim das cerejeiras”. Neste transporte farsesco, Masha é uma atriz de algum sucesso, em visita à sua casa de campo, onde moram os solteirões rabugentos Vanya e Sonia. A empregada Cassandra (outra referência teatral, esta a tragédia grega) inclui premonições entre seus serviços domésticos, enquanto Spike, o namorado jovem de Masha, postulante à carreira de ator e a vizinha Nina, também aspirante ao palco, gravitam em torno do núcleo familiar conflituado. A estrutura do texto de Durang está construída sob essa base referencial, ainda que seu humor nem sempre caminhe,  ajustadamente, em paralelo à origem inspiradora. Há um relativo descolamento da atmosfera que envolve as atitudes dos personagens com a    comicidade que parece dirigida apenas a eficácia do efeito. O diretor Jorge Takla procurou conciliar os dois planos em montagem elegante, com decorativa  cenografia de Attilio Baschera e Gregorio Kramer, divertidos figurinos de Theodoro Cochrane, e iluminação de Ney Bonfante. Takla se empenha em diminuir a distância entre provocar o riso espontâneo e brincar com  determinada carga dramática. Como fica difícil a dissociação, já que é conveniente que se saiba de onde vieram os personagens, algumas cenas confundem, por intrigantes,  e outras parecem comédias ligeiras de duração alongada. Marília Gabriela adota postura um tanto rígida e pouco modulada como Masha. Elias Andreato defende com bravura o monólogo sobre a superficialidade dos nossos dias. Patricia Gaspar se movimenta bem entre a amargura e as mágoas de Sonia. Teca Pereira como Cassandra assume o humor sem freios. Bruno Narchi, como Spike, e Jliana Boller, como Nina, exibem suas figuras físicas apropriadas aos papéis.