segunda-feira, 20 de abril de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (19/4/2015)

Crítica/ Closer – Perto Demais
Ciranda amorosa de individualidades

Closer é um exemplar típico da dramaturgia britânica dos anos 90, aquela que mede as temperaturas sociais e dos costumes, sob a perspectiva de uma sociedade sensível para estabelecer padrões de comportamento e flexível para rompê-los. Ainda que revestida do velho realismo, a narrativa de Patrick Marber se impõe pela fluidez e impessoalidade das relações marcadas por comunicação intensa em velocidade e nem sempre sustentável em conteúdo. Numa ciranda amorosa, stripper ama jornalista que, por sua vez, se enamora de fotógrafa, que é abandonada pelo companheiro, que se envolve com a stripper. Nesse carrossel, as trocas representam muito menos  quebra de convivência mas, essencialmente, trocas nervosas de vivências, demarcadas por afetos construídos em bases frágeis e zonas de sombras. Nenhum deles demonstra culpa em magoar o outro e nos movimentos de troca de par estão condenados a seguir, ou a desistir, da procura. Closer está longe de ser um texto excelente. No máximo, é hábil na construção bem armada de situações que se intercambiam no jogo das peças movidas pela necessidade da procura e das reações a perdas. Na sua estreia em Londres, em 1997, trazia novidade que se tornaria um atrativo sedutor para o público, e reforçaria o marketing publicitário para o espetáculo. Anunciava-se como uma montagem que utilizava, pela primeira vez, a comunicação via internet em cena. O que é verdade, mas apenas como um detalhe, hoje, e como na época, completamente, secundário. A adaptação e direção de Andrea Avancini retirou o caráter quase impessoal e atomizado dos contatos entre os personagens, para personalizar as ações. Com esta abordagem, o texto perde aquilo que o diferencia da ronda banal acionada pela dramaticidade dos sentimentos. Com cenário improvisado, iluminação inexpressiva e figurino convencional, a montagem tem na coreografia de Luhanna Melloni a agilidade que permite a intensa circulação dos atores, e na trilha original de Charles Kahn, a forma de sublinhar a evolução da trama. A agitação do quarteto de atores, que permite a ocupação das áreas do palco numa troca permanente de posições no espaço, não esconde a atuação fixada no rosto, em closes enfáticos. Rafael Sardão imprime nervosismo ao personagem,  ameaçando dissolvê-lo. Karen Motta se avizinha da ambiguidade da stripper. Paula Moreno e Luciano Szafir se apropriam sem variações de seus papéis.