quinta-feira, 16 de abril de 2015

Temporada 2015

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (15/4/2015)

Crítica/ Infância, Tiros e Plumas
Corrida em busca do humor
Jô Bilac, autor desta comédia com crianças, estampidos e plumas metafóricas, empreende viagem que parte de um Brasil cheio de contradições e vícios, que pretende chegar ao mundo fantasiosamente perfeito de Disney. Já no aeroporto, os passageiros anunciam, com suas atitudes estranhas e bagagens suspeitas, as turbulências que viverão durante o voo. Menino de 4 anos, com forte sotaque espanhol e ainda usando chupeta, carrega droga na sua mochila, enquanto garoto de 9, assiste a disputa por sua guarda pelos pais neuróticos. O trio infantil fica completo com a menina de 8, filha de político e candidata a miss mirim. E mais o pessoal de bordo e um segurança partem em viagem delirante em que tiros sem mira abatem a possível crítica aos passageiros da nave louca brasileira. É possível perceber as intenções de Bilac em reunir nesse grupo desgarrado de atitudes éticas, o reflexo de esgarçamento social que assume proporções ilimitadas. O problema está na intensidade com que dosa humor e ação. Na narrativa predomina o desenvolvimento das cenas como sequência de situações, em detrimento dos  comentários que insinua inicialmente. A força do humor se perde, quando não, estaciona no plano do engraçadinho, sem atingir o nonsense e o tom crítico que a trama, potencialmente, poderia oferecer. A sucessão de clichês humorísticos e o descontrole narrativo conduzem muito mais o texto para as plumas do que para os demais substantivos do título. Inez Viana enfatizou as situações como o elemento estrutural da sua direção ágil, recorrendo a um formalismo visual que se realiza na cenografia e se estende à composição em quadro do elenco. A movimentação em grupo dos atores estabelece efeito seriado, com as figuras enfileiradas ou reunidas em corpo único, ocupando o espaço cênico num balé geométrico. O cenário de Mina Quental, com biombos móveis em vaga referência aos painéis de anúncio de voos, reforça a imagem de seriação e conjuga funcionalidade e ambientação. A iluminação de Renato Machado e Ana Luzia de Simoni está plenamente ajustada à concepção do cenário. A direção de movimento de Dani Amorim assume papel determinante na montagem, e a direção musical de Marcelo Alonso Neves é destaque pela sua precisa intervenção. O figurino de Felipe Braga aposta no previsível. Jefferson Scroeder investe no caricatural para o menino  inocente que transporta droga. Luis Antonio Fortes demonstra presença tímida como o garotinho em disputa pelos pais. Carolina Pismel, a pequena miss, se transforma numa máquina vocal, disparando absurdos, na melhor atuação em cena. Debora Lamm convence como a mãe histérica. Leonardo Brício se retrai como o médico. O segurança de Iano Salomão e a equipe de bordo – Juliane Bondini, Zé Wendell e Júnior Dantas – têm interpretações menos regulares.