quinta-feira, 3 de abril de 2014

Temporada 2014

 Crítica do Segundo Caderno de O Globo (2/4/2014)

Crítica/ Camille et Rodin
De costas para a criação artística

A turbulenta história de amor, ciúmes, loucura e competição entre os escultores Auguste Rodin e Camille Claudel ganha versão de Franz Keppler, que se mantém, comportadamente, na apropriação de fatos, em contrapartida à interpretação de temperamentos. O confinamento de Camille em hospital psiquiátrico por longos anos se interpõe ao seu encontro com Rodin em seu ateliê e às crises amorosas e de criação que esculpiram as quase duas décadas de convivência. O autor reduz o choque  de personalidades em estado de ebulição a diálogos sentenciosos sobre o papel em segundo plano da mulher e da artista diante do homem e do gênio, num sucessivo debate de palavras, distante dos sentimentos que pretenderia representar. Os personagens reais emanam paixão e o que revelam em cena se restringe a uma discussão de um casal em atrito, longe da exaltação da dupla de artistas que se defronta com tantas dúvidas, nem todas muito nobres. O diretor Elias Andreato impõe à montagem o rigor da correção, procurando manter-se na linha reta de códigos convencionais, sem permitir- se desvios que contornem a flacidez da dramaturgia. A tentativa da direção de criar imagens corporais e movimentos de mãos, que indicariam metafóricas posições escultóricas, se mostram insuficientes para figurar a passionalidade e o atormentado percurso de forças vitais da criação. A cenografia de Marco Lima confere atmosfera aos dois ambientes (o quarto do hospital e o ateliê), ligados por portas que se abrem e fecham com bom efeito dramático. Na mesma linha correta da encenação, o figurino de Marichilene Artisevskis veste com a costura da época. Leopoldo Pacheco vive um Rodin pouco sanguíneo, equidistante dos conflitos que assaltam o personagem, e sem a leveza necessária para reproduzir corporalmente o desenho das mãos. Melissa Vettore, ao contrário, expande-se demais, tanto nos meneios de corpo, quanto na agitação das mãos, numa nervosa interpretação, dissociada  de base de atuação com maior solidez construtiva.