domingo, 5 de maio de 2013

16ª Semana da Temporada 2013


Crítica/ Horses Hotel
Fotograma para fixar vozes, corpos e desejos
A geografia humana, musical e literária, que localiza o teatral num espaço existencial eclodido na década de 80, vai à procura em Horses Hotel desta trilogia referencial para encontrar seu lugar dramatúrgico-cênico. A ambientação do texto de Alex Cassal, em cartaz no Oi Futuro Flamengo, se desenha num momento em que a cultura pop procura gritar inconformismos, berrando a liberdade individual das recusas, atordoando com a aspereza do rock para despir-se de costumes para vestir o punk. É deste tempo e da juventude que se alimentou da seiva que esse contorno oferece que Cassal construiu a narrativa, através da relação de três personagens (ela, uma garota que veio do interior; eles, arrebatados por experimentações sexuais), da onipresença da morte (a Aids se fazia avassaladora na época) e de citações a poetas e inspirações de escritores (a geração beat se confunde com situações que nos remetem a alguns autores). Ao manipular essas influências como um coquetel efervescente, converge para uma área de estridência que se manifesta na captura de reproduzir vozes, corpos e desejos. No contraponto desse registro quase temporal, propõe-se, tímida e ligeiramente, a questão da arte com experiência vital. Horses Hotel acaba por redundar em um fotograma, mais do que no movimento de pulsão dramática, que conduza para além de imagens  e palavras expositivas. O próprio texto denuncia a carência de fúria interna, quando tenta estabelecer contato com a plateia de maneira tão banal, supondo estar confrontando o espectador com  nível mais interiorizado de reação. A direção é assinada em conjunto pelo autor e Clara Kutner, o que talvez possa explicar a queda da dinâmica cênica, em especial quando a narrativa cai em vácuos. Não está bem equacionada a rotatividade das cenas, que têm quebras de intensidade, como aquelas transformadas em pequenos monólogos ou de exibição musical. O trio de atores – Ana Kutner, Renato Linhares e Emmanuel Aragão – se mostra completamente disponível para interpretar o universo retratado, e o fazem com adesão e dimensionada garra.  

Crítica/ O Nó do Coração
Caso de dependências em sessão de terapia familiar
Peça inglesa de David Eldrige que inaugura o confortável Teatro Eva Herz segue sem tropeços a cartilha de playwriting do realismo psicológico anglo-saxão. Lá estão bem colocados os personagens, neste caso, mãe e duas filhas que enfrentam problemas decorrentes de droga pesada na família. Proposto um tema de atualidade com tratamento didático, em que se demonstra a possibilidade de superação. Evidenciados os traços de comportamento que definem o caráter das irmãs e a neurose materna detalhadamente apontados. A evolução narrativa obedece linha pré-estabelecida: apresentação, desenvolvimento e clímax. Tudo no lugar certo. Essa arrumação, no entanto, não esconde a pouca originalidade como autor trata de sua bem cuidada e intencionada narrativa, diante da qual parece não ter se desviado, minimamente, da previsão de como conduzi-la. Os conflitos familiares mostrados em decorrência do processo de decadência pelo consumo de drogas de uma das filhas, ex-apresentadora de programa infantil de televisão, têm seu epicentro na forma como a personagem percorre os estágios da saída da dependência. O diretor Guilherme Leme criou cenografia sem atmosfera, eventualmente alcançada pela iluminação de Tomás Ribas, em que as mudanças de tempo são preenchidas por trilha sonora impositiva e vazia de significação dramática. Leme não ultrapassa o limite demonstrativo das boas intenções do autor em expor as dificuldades emocionais para revelar um caso clínico a ser discutido numa sessão terapêutica. As cenas de internação hospitalar e os certos momentos familiares (como o papel da irmã e a imagem do pai morto), pontos fracos do texto, deixam à mostra as hesitações do diretor. O elenco tem no núcleo central, Guida Vianna como a mãe sobrecarregada de dramaticidade, Monique Franco em busca de convencer como a atormentada dependente, e Camila Nhary, como a irmã invejosa.

Crítica/ Por Que Será Que As Amamos Tanto...?   
Bate-papo argentino em torno de piadas de botequim
Com uma historieta que existe apenas para justificar final ridículo, o texto do argentino Daniel Datola é tão-somente um desfiar de piadinhas sobre o relacionamento homens e mulheres. Numa conversa de botequim, na tradição do eterno masculino, dois amigos falam durante longos 60 minutos de lugares comuns sobre comportamento feminino, de observações que se avizinham da conversa de bêbados com algumas piscadelas ao preconceito em relação a ambos os gêneros. Tuca Andrade, que dirigiu o espetáculo em cartaz no Teatro Cândido Mendes, procura dar agilidade à série de piadas, já que fica difícil com a falta de fixação de dramaturgia menos volátil estabelecer alguma contracena, e desta maneira aproveitar a presença de dois atores – Wesley Aguiar mais próximo do humor do que Marco Miranda -, e não decidir por fazer deste Por que Será Que as Amamos Tanto...? mais um dos muitos stand-ups espalhados pelos palcos cariocas.

Crítica/ As Coisas Que Fizemos E Não Fizemos

Matheus Souza, autor, diretor e ator dessa montagem em cartaz no Espaço Sesc, não apenas pelo acúmulo de funções, mas pela voracidade com que exerce cada um desses papéis, não deixa dúvidas quanto à sua juventude. Talvez este não seja o seu primeiro texto encenado, desconfia-se que seja o mais ambicioso na sua gana de ocupar um palco. Escrito por alguém recém-saído da adolescência, o título pode revelar muito do que o texto não contém e que a pouca idade e os games podem levar a imaginar. Uma badalhoca ajuda a transformar a vida, permitindo que probleminhas amorosos sejam revistos ao longo de várias idas e vindas ao passado e de discussões entre a operadora e o usuário. O pacote é embalado por canções medíocres. Sem medida para o que escreveu e sem limites para o tempo que gasta para colocar o texto em cena, Matheus Souza também não tem controle para sua atuação hiperativa. Lua Blanco e Giselle Batista são as atrizes-cantoras.                                 

                                        macksenr@gmail.com