quinta-feira, 18 de outubro de 2012

36ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ Macbeth
Pequena chama ilumina a tragédia
Nas suas últimas encenações de clássicos, Gabriel Villela tem promovido revisão na forma como se apropria dos meios expressivos através dos quais os enquadra no que poderíamos convencionar como sua estética pessoal. Tanto em Sua Incelença, Henrique III, quanto em Hécuba, os dois últimos espetáculos do diretor, ao lado da adaptação teatral do romance de Lúcio Cardoso, Crônica da Casa Assassinada, Villela se interpõe à convenção do trágico e exercita a liberdade de amoldar o texto ao tempo e espaço da imagem. Em Macbeth reforça essa linha com a mesma exuberância visual que marca sua trajetória como encenador, acrescida da condensação da narrativa e da virada do trágico para o drama, de certo modo identificado com os antigos dramas circenses. Ao abordar a construção da culpa, deflagrada por assassinatos que Shakespeare decompõe com atos de vilania em torno da ambição de poder, a versão em cartaz no Teatro dos Quatro fica à margem de maiores questões que envolvem a trama. Radicalmente cortada, a tradução de Marcos Daud, que busca a coloquialidade, abandonando a métrica original, tem a função de roteirizar, eliminando diálogos e suprimindo os vazios com narração. Nesta decupagem à serviço de modelo de encenação, perdem-se as nuances do entrecho e a extensão da palavra poética No enquadramento cênico de Villela, repetem-se figurinos dramaticamente coloridos, maquiagem fortemente desenhada e uso de objetos inusitados para compor roupas e cenário. Permanecem o detalhamento de movimentos e quebras narrativas. Ajusta-se a fluência que se quer imprimir à comunicabilidade que se deseja emprestar ao trágico. Ficam pelo caminho as vozes dos que falam de dentro da ebulição dos sentimentos, restringidos a um sopro de pequena chama. O elenco, malabarista nesse drama de enredo facilitado, se desdobra em ritualizar o cômico, celebrar o jogo teatral, compor contornos pictóricos. As bruxas – José Rosa, Marcos Furlan e Rogério Brito – tricotam vaticínios com a afetação de tipos. Carlos Morelli se impõe menos como narrador do que como suntuosa figura coberta de vermelho. Marco Antônio Pâmio, como Banquo, se desvia, ainda que timidamente, da impostação dos demais atores. Hélio Cícero adere, também parcialmente, à linha geral das interpretações. Marcello Anthony demonstra trabalho vocal, mas não consegue projetar o alcance de Macbeth. Claudio Fontana, que vive Lady Macbeth como um ator de teatro tradicional japonês, em que pese essa escolha um tanto arbitrária em relação ao restante do elenco, realiza com competência e sensibilidade o que lhe foi proposto. A iluminação deixa a cena um tanto desaquecida. O cenário, com elementos pesados e pouco integrados às coloridas vestes e maquiagem dos atores, empobrece, desta vez, a força das imagens, marca indelével das montagens de Gabriel Villela.

                                                macksenr@gmail.com