quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

1ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ Meu Avesso É Mais Visível Que Um Poste
Territórios subterrâneos de vozes sufocadas
Um dos personagens desta montagem em cartaz no Espaço Sesc, menciona  quadro sobre um posto de gasolina cujo título é a Estrada (seria uma referência à obra de Edward Hopper?). O jogo de cena é desvendado pela constante exposição de seus meios, como na maneira que os atores identificam os personagens que interpretam, anunciando seus nomes antes de suas falas (seria citação ao teatro da autora francesa Nöelle Renaude?). A insistência com que se repete que nada faz muito sentido e da inutilidade de buscar qualquer razão para viver, constrõem sentimento de vazio (seria o mesmo drama da literatura de Albert Camus?). As significações que se atribuem a gestos e atitudes, que os silêncios e as palavras escondem, explicariam o intrigante título da montagem (seria apenas um acaso a apropriação como epígrafe de verso do poeta Manoel de Barros?). As cenas  percorrem territórios subterrâneos, em que a banalidade pode ser vista como comédia ou como lente de aumento da sua tragicidade (seria como Thecov imobliza, na sua dramaturgia, mundos interiores?). Em Meu Avesso É Mais Visível Que Um Poste  cabem todas essas dúvidas e influências, mas ainda assim é de originalidade aliciante. O espaço da representação, aparentemente, segue lógica narrativa que se baseia numa trama. E esta é bastante simples. Grupo familiar vai até a sítio encaixotar objetos, lembranças, o passado, sabe-se lá, já que a propriedade foi vendida. Os dois dias de permanência, marcados pelas horas, mudanças climáticas e fases da lua, são passados entre conversas interrompidas, palavras tensas, piadas sem graça, vozes internas sufocadas, atmosfera indefinida, memórias soltas e perdas definitivas. A dramaturgia e direção de Emmanuel Aragão conduzem o espectador por desvões, seja da representação, de imagens que não se fixam em uma só mirada, seja pelo deliberado esgarçamento do tempo, que se estende, por longas cenas como recurso dramático. A montagem avança por escaninhos, por atalhos que apontam para outros tantos mais, como na informação sobre o título do quadro (a figura se nomeia e se faz existir pelo movimento que se lhe atribui). O elenco – Arthur Schmidt, Carolina Bianchi, Gabriel Pardal, Liliane Rovaris, Michel Blois, Rossini Viana Jr. e Thiare Maia -, que também colaborou no cenário, figurino, iluminação, e trilha sonora, está indissoluvelmente comprometido com a construção da cena. Sua atuação se reflete, com integrados traços, no desenho instigante desse interessante espetáculo.


                                                                macksenr@gmail.com