segunda-feira, 25 de abril de 2011

17ª Semana da Temporada 2011


  Crítica/ Os 39 Degraus

Adaptação do elenco ao humor das rubricas britânicas
A origem está no cinema (os filmes de Alfred Hitchcock) e no teatro (os truques dos seus modos expressivos), que se interpenetram nesta comédia inglesa de Patrick Barlow, que brinca com a inspiração cinematográfica e expõe ao ridículo os recursos cênicos. O roteiro, que conta história baseada no filme homônemo de Hitchcock, se restringiu a quarto atores para levar adiante o misterioso crime ocorrido no apartamento de um homem britanicamente entediado. A partir de então, é perseguido até desvendar os motivos do assassinato da estranha agente , morta por tentar salvar o mundo da sanha de uma organização. Os atores se desdobram para se distribuir em papéis, muitas vezes duplos, usando recursos de humor que revelam os mecanismos da ilusão. A roteirização leva essa perspectiva ao limite delirante da ação narrativa. Esse primo de Irma Vap, a montagem que também recorria à movimentação frenética dos atores (dois) para impulsionar a cena, se baseia mais nas entranhas do jogo teatral do que o  dos intérpretes do texto de parentesco. A manipulação que Barlow faz de sua maquinaria de efeitos está prevista no detalhamento de cada quadro, ressaltando a potencialidade das situações que aceleram os gadgets visuais. O texto calcado na “técnica” e no “humor” britânicos do ator inglês, quando transposto para cá, encontra na “espontaneidade” e na “comicidade” do ator brasileiro, revisão menos conotada nos apelos da cinematografia hitchkockiana e mais livre na exibição histriônica. Alexandre Reinecke como diretor da versão nacional, teve o mérito de seguir o que estava proposto pelo autor. A função do diretor, neste caso, foi a de traduzir, sem muitas interferências, o que estava definindo pelas rubricas. E cumprindo o papel de executor, escolheu o elenco que se ajustou, à perfeição, ao espírito do espetáculo. Dan Stulbach, Fabiana Gugli, Danton Mello e Henrique Stroeter entram na brincadeira de maneira abusada, ao mesmo tempo em que cumprem as rigorosas indicações, brincando com suas caracteríticas de intérpretes. Dan com a fama de ator de televisão; Stroeter com variantes do cômico; Fabiana com a atriz de espetáculos de vanguarda e Danton com a entrega ao humor. Os 39 Degraus, em cena no Teatro do Leblon, se oferece como uma boa comédia com grande possibilidade de conquistar um longo afluxo à bilheteria.


Crítica/ A Estupidez

Escalada caricata para se dar bem na vida
Uma outra comédia, com estilo semelhante, e também inspirada em efeitos retirados de outros gêneros, A Estupidez, que ocupa o palco do Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, repete a eficácia como divertissiment de Os 39 Degraus. Escrita pelo argentino Rafael Spregelburd trata de comportamentos  relacionados ao título. Numa corrida para se dar bem - no jogo, no abuso do outro, contra os obstáculos à cobiça -, cinco personagens perseguem, à moda de um vaudeville anárquico, a concretização de seus confusos e superficiais objetivos. Com a banalidade das motivações que os impelem e com a vulgaridade de expedientes grosseiros, emprendem a escalada para arranhar o politicamente correto e desvendar suas atitudes estúpidas. Num ritmo acelerado - ainda que o texto seja longo e na versão do diretor Ivan Sugahara dividido em dois atos - Spregelburd é mordaz nas observações sobre a arte contemporânea, sobre seriados de televisão e outros adereços consumistas da cultura pop. Em crescente aumento de tom, que varia da apresentação caricata dos personagens ao delírio da comédia rasgada, o autor mantém a oferta de riso em nível, tanto rasteiro quanto crítico. Desta alternância, da qual Sugahara tira partido na direção, os atores sustentam a troca rápida de tipos, com agilidade nas caracterizações e na quebra de alguns padrões do que se convencionou como de bom gosto. Cristina Flores, Alcemar Vieira, Saulo Rodrigues, José Karini e Letícia Isnard demonstram um “acordo interpretativo” em cena, que faz com que a roda das atuações gire em movimento bem azeitado. Cada um deles tem um momento de destaque, mas Letícia Isnard, mentora do projeto, além de tradutora e adaptadora, e por isso bastante identificada com o espetáculo, está impagável nas suas múltiplas intervenções, das quais retira as melhores possibilidades de humor.      
  

Cenas Curtas

 A 5ª edição do Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro) de Teatro escolheu os vencedores da temporada 2010. A Cia Pequod recebeu o prêmio especial pelo espetáculo Marina, e Renato Machado pela iluminação de Marina, Senhora dos Afogados, Hamelin e Deus da Carnificina. Marcelo Pies ficou com a láurea de figurino por Hair, enquanto a de cenografia com Daniela Thomas por Pterodátilos, e André Paes Leme pela direção de Hamelin. Rodrigo Nogueira por Ponto de Fuga foi escolhido para o prêmio de autor, André Dias por Era no Tempo do Rei como ator coadjuvante e Dani Barros por Maria do Caritó e As Cochambranças de Quaderna como atriz coadjuvante. Marco Nanini se destacou como ator de Pterodátilos e Júlia Lemmertz como atriz de Deus da Carnificina. Pterodátilos foi considerado o espetáculo do ano.  

Há quatro anos, quando da primeira visita do Théâtre du Soleil ao Brasil, o Rio ficou de fora. Somente Porto Alegre e São Paulo assistiram à Les Ephèméres, flagrantes sobre a vida contemporânea transformados em saga cênica. Para novembro está prevista a vinda ao Rio do último espetáculo dirigido por Ariane Monouchkine, Os Náufragos da Louca Esperança. Inspirado em obra póstuma de Júlio Verne, a montagem evoca a rodagem de filme nos primórdios do cinema.

Na sua 18ª edição, que acontece entre os dias 6 e 27 de setembro, o Porto Alegre em Cena reúne importantes nomes da cena internacional (além da Mnouchkine, Peter Brook e Bob Wilson), mas este ano investe em forte programação musical. Estão agendados para a mostra gaúcha, Phillip Glass, Marianne Faithfull, os portugueses Maria João e Mário Laginha e os brasileiros José Miguel Wisnik, Ná Ozetti, Cida Moreira e Adriana Calcanhoto.


O que há (de melhor) para ver
  
Hair – A encenação de Möeller e Botelho para o musical dos anos 60 de Ragni, Rado e Macdermont mantém a estrutura original, mas extrai do que se poderia considerar “de época”, a força dramática e a carga espetacular que o roteiro conserva de raiz. A perfeita adequação entre os tipos e personagens se completa pelo preparo técnico do elenco, prevalecendo a qualidade vocal, coreográfica e a unidade interpretativa de atores preparados para enfrentar a complexidade do que lhes é exigido. Oi Casa Grande.

macksenr@gmail.com